"Proceso a nuestra realidad"
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Frente e verso do cartão-convite que acompanhava a obra. A "gota de sangue" era feita de acrílico, o que justificaria sua inclusão no salão, dedicado ao material.
Em agosto de 1972 na Argentina, uma semana depois do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT) tentar organizar uma fuga frustrada de prisioneiros das Forças Armadas Revolucionárias, aconteceu o massacre de Trelew, quando foram fuzilados 16 militantes considerados responsáveis pela fuga, e posteriormente, os sobreviventes. Em junho de 1973, na recepção de Juan Perón após 18 anos em exílio, a direita peronista organizou outro massacre, onde 13 pessoas foram mortas e 300 ficaram feridas.

Durante o IV Salão Prêmio Artistas com Acrílico Paolini, que aconteceu no mesmo ano no Museu de Arte Moderna em Buenos Aires alguns meses depois, os artistas Perla Benveniste, Juan Carlos Romero, Eduardo Leonetti, Luis Pazos e Edgardo Vigo apresentaram a obra "Proceso a nuestra realidad".

A obra se tratava de um muro coberto por cartazes de rua da guerrilha do PRT com fotos das vítimas e de um lado a pixação com os dizeres "Ezeiza es Trelew", e de outro "Apoyo a los leales. Amasijo a los traidores", adicionadas de última hora. Distribuíram também entre os artistas participantes e os assistentes do salão um abaixo-assinado denunciando a seleção e criticando a dependência econômica e material da empresa patrocinadora, o espírito competitivo e a existência do júri em si.

Em uma espécie de estratégia de guerrilha própria, eles se aproveitaram do convite, da confiança que tinham dos organizadores e da familiaridade com os jurados do prêmio para apresentar uma série de manifestações criticando a instituição da arte; uma invasão da rua no espaço do museu.
CAMNITZER, Luis. Dialéctica de la Liberación. Arte conceptualista latinoamericano. 1a. ed. Casa Editorial HUM: 2008. p. 99-122.
"Por uma Arte
não elitista,
não seletiva
não competitiva
não negociável,
nem a serviço dos interesses mercantilistas.

Por uma arte nacional e popular, um trabalho em grupo a serviço dos interesses do povo."
Foto de Emilser Pereyra do momento em que os fugitivos depõe as armas e se entregam no aeroporto de Trelew.
LONGONI, Ana. “El arte, cuando la violencia tomó la calle. Apuntes para una estética de la violencia”, em: VV.AA. “Poderes de la imagen”. I Congreso Internacional de Teoría e Historia de las Artes. IX Jornadas del CAIA, Buenos Aires, CAIA, 2001.